Jeito Assessoria Cirandas de Fazer!

Na última sexta-feira, 18 de outubro, o Coletivo de Assessoria Cirandas deu início às oficinas da trilha formativa de Autodeterminação e Autoidentificação do Projeto Enxu Queimado pelo Direito de Consulta, reafirmando sua abordagem única de promover o aprendizado: despertando a paixão antes de ensinar. Com inspira ção no educador Rubem Alves, que nos ensina que o encantamento deve vir antes da técnica, a Cirandas tem como princípio que, antes de qualquer instrução prática, é preciso instigar o desejo de aprender.

Rubem Alves nos inspira com suas palavras:

“Se eu fosse ensinar a uma criança a arte da jardinagem, não começaria com as lições das pás, enxadas e tesouras de podar. Eu a levaria a passear por parques e jardins, mostraria flores e árvores, falaria sobre suas maravilhosas simetrias e perfumes; a levaria a uma livraria para que ela visse, nos livros de arte, jardins de outras partes do mundo. Aí, seduzida pela beleza dos jardins, ela me pediria para ensinar-lhe as lições das pás, enxadas e tesouras de podar.”

Esse princípio de fascinar antes de ensinar é central nas trilhas formativas facilitadas pelo Cirandas, onde metodologias ativas, associadas a técnicas de arte-educação, são aplicadas para gerar engajamento e aprendizado profundo. No caso do início da trilha formativa em Enxu Queimado, a sétima arte foi escolhida como instrumento metodológico. O filme Narradores de Javé foi exibido em diversas sessões no território pesqueiro, estimulando reflexões sobre as semelhanças entre a fictícia cidade de Javé e Enxu Queimado.

A proposta do Cirandas reflete a ideia de que é preciso conquistar o coração antes de ensinar qualquer técnica, como Rubem Alves também diz:

“Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música, não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe falaria sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes.”

Ao exibir Narradores de Javé, o Cirandas provoca um engajamento natural, usando o filme como um ponto de partida para discussões sobre identidade, memória coletiva e a preservação de territórios. Assim, o coletivo não só promove o aprendizado, mas fortalece a conexão das comunidades com suas histórias e lutas.

Essa metodologia criativa está profundamente conectada à ideia de que o desejo de aprender surge do encantamento com o objeto de estudo, como Alves completa:

“Se fosse ensinar a uma criança a arte da leitura, não começaria com as letras e as sílabas. Simplesmente leria as estórias mais fascinantes que a fariam entrar no mundo encantado da fantasia. Aí então, com inveja dos meus poderes mágicos, ela desejaria que eu lhe ensinasse o segredo que transforma letras e sílabas em estórias.”

Essa é a essência do jeito Cirandas de fazer: inspirar o desejo de aprender e criar espaços de participação ativa, onde as técnicas vêm depois da fascinação. A iniciativa no projeto Enxu Queimado pelo Direito de Consulta reafirma o compromisso do coletivo em usar metodologias inovadoras para fortalecer a autodeterminação e a identidade das comunidades tradicionais, através do poder transformador da arte e da educação.